Para um compromisso sério com a sua caminhada, os
missionários necessitam cultivar momentos profundos de espiritualidade. A
experiência tem mostrado que as crianças, adolescentes e jovens são capazes de
viver profundamente estes momentos.
Jesus comparou a Palavra de Deus a uma lâmpada. A
lâmpada não é para ser olhada: devemos é olhar para o que a lâmpada está
iluminando (cf. Mi 5,15). Assim também a Bíblia: foi feita para iluminar o
chão de nossas vidas. Com a sua luz, saberemos o que deve ser
"consertado", para sermos novamente conforme o sonho de Deus.
Misturando Bíblia e Vida, os pobres viram refletida na Bíblia a vida deles e
convenceram-se de que, como na época do povo da Bíblia, em que Deus ouviu o
clamor dos pobres e caminhou lado a lado com eles, também hoje, por meio das
Escrituras Sagradas, da vida e da comunidade, Deus continua falando.
Os jovens missionários, alimentados pela Leitura
Orante da Bíblia, mostram que amam Jesus, fazendo o que Ele fez: empenham-se
pela igualdade, justiça, fraternidade, a fim de que toda a riqueza do mundo
seja partilhada e todos tenham uma vida digna.
A Leitura Orante da Bíblia é como um colírio: limpa
os olhos embaçados, para que se comece a enxergar com os olhos de Deus. Não é
um momento de estudo, nem um tempo para preparar um trabalho pastoral: é um
momento de leitura da Palavra de Deus e de escuta do que ela nos diz
pessoalmente, para melhor viver o Evangelho de Jesus.
Pontos que orientam a leitura orante pessoal da Bíblia
1 - Faça-se em mim segundo a tua palavra. O momento da Leitura orante da Bíblia
não é um momento de estudo nem um tempo para realizar um trabalho pastoral, ou
adquirir mais conhecimento. É, antes de tudo, um momento de ler a Palavra de
Deus e escutar o que esta palavra tem a nos dizer para melhor viver o Evangelho
de Jesus Cristo. Nesse momento é necessário ter a atitude que o velho Eli
recomendou ao menino Samuel: "(...) Fala, Senhor, que teu servo
escuta (...)" (1ºSm 3,9). Esta também foi a atitude obediente de
Maria: "Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
2 - Invocar o Espírito: É o momento em que se deve estar
aberto à docilidade do Espírito Santo. Escutar Deus não depende da pessoa, mas
Dele. É um momento de gratuidade por parte do Pai. Para isso é preciso um
preparo vigilante na oração, no silêncio para descobrir o sentido que a
Palavra de Deus tem para cada um, hoje.
3 - Criar um ambiente de recolhimento, que se torne o espaço sagrado. É o
momento do silêncio. Lugar de recolhimento. Ler a Bíblia é como visitar um
amigo. Os dois exigem o máximo de atenção, respeito, amizade, entrega e escuta
atenta. Uma boa posição do corpo favorece o recolhimento da mente.
4 - Receber a Bíblia como Livro da Igreja. Ao abrir a Bíblia deve-se estar
consciente que esse livro não é propriedade pessoal mas da comunidade. A
leitura orante é o barco que nos conduz pelas curvas do rio até o mar. É luz
que ilumina as noites escuras da vida. Mesmo que se esteja só realizando este
momento de oração, estarão junto todos os que já fizeram esta experiência
amorosa de Deus.
5 - Ter uma correta atitude interpretativa diante
da Bíblia. Para
isso deve-se estar atento a 3 passos ou atitudes:
1° Conhecer, respeitar, situar, ver o que o
texto diz. Para isso é importante manter o silêncio, evitar que se leve o
texto a dizer só aquilo que se gosta de escutar.
2° É o momento da meditação: ruminar, dialogar,
atualizar. Perguntar-se: O que o texto diz para mim, para nós? Entrar em
dialogo com o texto. Ligar o texto com a vida que a gente vive, com a
realidade.
3° Oração: Suplicar, louvar, recitar. O que o texto
faz dizer a Deus? É o momento de prece, de vigiar em oração. Chegou a hora de
se responder a Ele.
6 - Colocar-se aberto à palavra para chegar à
contemplação. Enxergar,
saborear, agir. Contemplar é ter nos olhos algo da sabedoria que leva à
salvação; ver o mundo, a vida com os olhos dos pobres, com os olhos de Deus;
excluir de si tudo o que vem do poder; saborear, desde já, algo do amor de Deus
que supera todas as coisas; o amor de Deus se revela no amor ao próximo; dizer
sempre: "faça-se em mim segundo a tua Palavra" (Lc 1,38).
7 - Procurar, por todos os meios, que a
interpretação seja fiel. Para
que o momento da oração não fique só na conclusão dos próprios sentimentos é
necessário levar em conta três exigências:
1ª O resultado da oração deve ser confrontado com a fé
da Igreja, isto é, com a fé da própria comunidade.
2ª Confrontar com a realidade da vida em que se vive.
Estar atento à fé da Igreja. O fraco resultado da oração é consequência de uma
não atenta escuta da voz de Deus.
3ª Confrontar sempre o resultado da oração com a
exegese. A leitura orante não pode ficar parada na letra. Deve procurar o
sentido do Espírito (2Cor 3,6).
8 - Imitar o exemplo de Paulo. São Paulo dá os seguintes conselhos:
1° A palavra foi escrita para a nossa instrução (1ºCor
10,11).
2° Voltar o olhar para Jesus Cristo, pois só com Ele
cai o véu e a escritura se revela como sabedoria que leva à salvação.
3° Paulo fala de "Jesus Cristo
Crucificado", "escândalo para uns e loucura para outros"
(2ºCor 2,2; 1ºCor l,21s). Foi Ele que abriu os
olhos para perceber a Palavra viva no meio dos
pobres.
4° Misturar o eu e o nós, nunca só o eu e nunca só o
nós!
5° Ter presente os problemas: pessoais,
familiares, comunitários, da Igreja, do povo, das comunidades.
9 - Descobrir na Bíblia o espelho do que vivemos
hoje. Ter
presente que o texto que se leu não é só uma janela por onde se olha para
saber o que aconteceu no passado; é também um espelho, para ver o que acontece
com a gente, hoje.
10 - Interpretar a vida com a ajuda da Bíblia. Na leitura orante da Bíblia, o
objetivo último não é interpretar a Bíblia, mas interpretar a vida. Celebrar a
palavra viva que Deus fala hoje na vida de cada um, na vida do povo, na
realidade do mundo em que se vive.
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